quarta-feira, 13 de abril de 2011

Sobre o Fauvismo e Matisse.

 O início do século XX foi marcado pelos questionamentos dos valores autoritários, na política pelo colapso dos governos oligárquicos e na organização da sociedade pela difusão de idéias democráticas de cidadania, expressando a liberdade. Nas artes essa questão se deu pelo repúdio à descrição impressionista em detrimento da liberdade da experimentação. O avanço científico também alterou as condutas sociais einterferiu na noção de tempo, fragmentando-o: nas artes, os estilos que se caracterizam por amplas categorias de definição deram lugar à idéia de movimentos, mais transitórios.
Essa nova maneira de ver o mundo mudou também a maneira de se expressar: na pintura os rígidos métodos de representação natural do impressionismo já não correspondiam mais à necessidade de liberdade de expressão dos artistas, exigida pela transformação do mundo: “embora essa paixão anti-tradicional pela renovação e pela mudança fosse típica de todas as artes, ela foi mais patente nas artes visuais, e foi nelas
que primeiro prevaleceu e, depois, lentamente conquistou uma aceitação pública mais
geral.
Esse ‘Novo Espírito’ precisou de muito mais tempo para conseguir aceitação na literatura e na música (STANGOS, 2004). Diante dessas novas demandas desenvolve-se
um novo estilo de pintar denominado Fauvismo, que valorizava mais a liberdade do
artista em criar um novo mundo nos limites estruturais do quadro, do que a rigidez na
representação da imagem do modelo. Esse movimento se iniciou na França em 1904 mantendo uma coesão na forma de expressão de seus membros até 1910. Os pintores fauvistas assim foram
caracterizados por valorizarem as formas primitivas na elaboração de seus trabalhos,
sendo comparados a Feras (condutas dos pintores na elaboração dos quadros, o Fauvismo se caracteriza pela expressão através de cores puras e poucos detalhes nas formas, mantendo um exagero
no desenho e na perspectiva, que é conseguida através da ativação das cores reagindo
entre si. O Fauvismo teve sua maior expressão com as obras de Henri Matisse, francês
do norte que nasceu em 1869 em Lê Cateau-Cambrésis e se expressou artisticamente até
a sua morte em 1954. Em comum com as obras de Gustave Moreau, Matisse possui a inclinação
Simbolista (símbolos que representem valores transcendentes - Belo; Bem; Verdade),
contrária ao Naturalismo (arte; objeto; técnica) em detrimento de uma forma de
expressão mais poética e lírica, de uma ordem mais espiritualista que valorize a
imaginação em detrimento da objetivação natural. Essa oposição ao Naturalismo
também demonstra sua intenção de criar um “Espírito do Quadro”, como nas obras de
Cézanne que se evidencia a preocupação com a solidez estrutural do quadro e seu Banhistas, resgatada por Matisse, o autor tinha mundo, sem preocupação com a cópia ao modelo. Isso faz com que Matisse e os
Fauvistas passem da evocação das imagens à evocação das cores. A contraposição à contenção formal demonstra sua proximidade ao lirismo romântico de Baudelaire e a objetivação de Gauguin, que prezava pelo valor decorativo do quadro; e a ativação das cores demonstra suas leituras das obras de Van Gogh: “Longe de aparentes ambições provocativas, Matisse aspirava a uma arte ‘que servisse como lenitivo, como calmante cerebral, algo semelhante a uma boa poltrona”.(BERMEJO-GARCÍA, 1995)
Além da temática neoclássica dos um forte apreço em registrar impressões em interiores: além das representações factuais da vida e das imagens orientais marcadas pelas suas viagens ao norte da África, onde recebeu influência de uma arte não européia através das cerâmicas e da tapeçaria
marroquina e argelina. Em sua pintura decorativa tudo na tela desempenhava um papel
para manter o equilíbrio do espírito do quadro através da disposição arbitrária das cores
puras: como especificou o próprio autor, que buscava uma relação de tons para formar
um acorde cromático como uma música, com as cores reagindo entre si.
Seu estilo também se caracterizava pela pureza dos recursos, já que não se
preocupava tanto com as formas: o espectador recebia apenas os dados essenciais para
que pudesse perceber as sensações plásticas e se situar no espaço do quadro. Espaço
esse que era marcado pelo exagero da perspectiva que gerava uma espacialidade que se
confundia entre o plano do quadro e as representações de espaço/profundidade ativados
pelas cores: sempre preocupado com a coesão na superfície da tela, convertendo-a em
uma unidade decorativa.

PALAVRAS CHAVE: Arte no século XX; vanguarda; Matisse;

ARTIGO: A Arte do Século XX como a Exaltação de todos os Sentidos.
(trecho)

AUTORES:

Emílio Andrade e Rogério Henriques (org).
Carlos Assis, Ana Luíza Soares, Gabriel Esper
Estudantes de Graduação de História do
Departamento de Artes e Humanidades
Universidade Federal de Viçosa.

FONTE: Contemporâneos: Revista de artes e humanidades, N.3, NOV-ABR 2009.
DISPONÍVEL EM: http://www.revistacontemporaneos.com.br/n3/pdf/seculoxx.pdf

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